Ainda o barulho
Clotilde Tavares | 6 de outubro de 2009Ontem andei aqui falando de barulho urbano. E hoje continuo com o assunto porque recebi alguns e-mails interessantes de pessoas relatando suas próprias dificuldades em lidar com essa praga urbana, como você pode ver em alguns comentários do post anterior, logo abaixo deste. Mas também recebi outros, que não publiquei porque a linguagem não se adaptava àquela adotada neste espaço, uma vez que envolvia xingamentos dirigidos a esta blogueira e prometia que ia sim continuar ligando o som do carro nas alturas, descrevia o equipamento, e terminava com a afirmativa: “Quem for podre que se quebre!”
Pelo tom do e-mail dava para deduzir o perfil do missivista. Deve ser jovem, entre 20 e 30 anos, do sexo masculino, classe média. Baseada na convivência que tive nos edifícios onde morei, e no que observo por aí no meu círculo de convivência, acrescento que geralmente, eu disse geralmente, são de classe média a média-alta, educados em colégios particulares, cursando faculdades também particulares. Gostam de “vaquejada, de forró e de cabaré”, como dizem as letras de suas músicas, e geralmente contam com o pai ou a mãe para tirá-lo de encrencas quando as coisas não vão bem. Na última novela da Globo havia um tipo assim, o “Zeca”. Resumindo, são essas as pessoas que chamo de “ceresumanos”. São muitos e às vezes eu tenho a impressão de que são maioria nessa faixa etária.
Voltando à questão do barulho, penso que é preciso atuar em três eixos.
O primeiro é a educação. Ações nas escolas precisam ser desenvolvidas, principalmente entre os bem jovens, quando as crianças ainda não se tornaram “ceresumanos”. Aulas, atividades, cartilhas, videos, tudo isso pode fazer com que essas crianças além de se educarem sejam multiplicadores da idéia de que a poluição sonora é danosa à saúde; elas também conheceriam as medidas punitivas que podem ser aplicadas aos barulhentos.
O segundo eixo é o da fiscalização e repressão ao barulho já existente. Aqui – volto a dizer – não adianta órgãos de fiscalização criados por governantes bem intencionados, mas sem a correspondente cota de pessoal ou viatura para fiscalizar. Em Natal, o uso do telefone 190 acionando a polícia para dar fim à algazarra funciona muito bem e, dessa maneira indireta, também “educa”.
O terceiro eixo é o que cabe a nós, cidadãos. É surpreendente o número de pessoas que se sente incomodada mas não faz nada, pelo medo de parecer “chata” ou “antipática”. Precisamos entender que a paz e o silêncio são um direito. Precisamos nos informar mais sobre essa questão, porque muita gente pensa que durante o dia é permitido fazer o barulho que quiser, e que a “lei do silêncio” só vale após as dez horas da noite. Barulho é barulho qualquer hora, e o cidadão tem o direito de reclamar.
Então: informe-se, eduque seu filho, fale sobre isso no seu círculo de amigos, cobre políticas educativas na escola em que ele estuda, vote em pessoas que estejam interessadas na questão do meio-ambiente, não tenha medo de parecer antipático, pois se trata de sua saúde, do seu bem-estar e da sua vida sem estresse. Sobretudo, reclame, faça valer seus direitos de cidadão e de habitante de um planeta que, se a gente nao tomar cuidado, daqui a pouco vai se tornar um lugar muito terrível pra se viver.
Querida Clotilde,
Aqui no CCAB-SUl onde tínhamos o bom Mariu´s Bar, tornou-se numa praça de shows que por mais que agrade alguns é um tormento para a vizinhança. Aqui os vizinhos ficam chateados e inertes.
Além do Feitiço e do posto de gasolina.
Tenho feito esforços para conseguir algo porém estou tendo dificuldades com o 190 que não se aplica aos estabelecimentos, ao Deprema que sumiu e a Semurb que ainda não disse nada.
Resta agora a policia comum na Plantão Zona-Sul. Mesmo querendo usar toda a bagagem jurídica que tenho em mãos estou esbarrando na morosidade de quem tem o dever de nos ajudar.
Acabo de inscrever-me no Yahoo Grupos, obrigado pela dica.
Abraços.
Alô, Clô
Faço parte do Chega de Barulho, e iniciativas como a sua, que começam a brotar aqui e ali, só faz é retroalimentar nosso justo movimento, por um pouco de sossego.
Desde 1999 sofremos com os latidos de uns 50 cães, de mais ou menos uns dez donos, numa pequenina rua, que tem tudo pra ser um paraíso.
Em julho de 2009, ou seja, dez anos de paciência inócua, fizemos um abaixo assinado e encaminhamos três processos ao juizado de pequenas causas. Após o recebimento da intimação, esses três espaçosos passaram a ajustar a conduta dos seus animais.
Por dez anos vários foram os pedidos de socorro: pessoalmente, por carta, cartões de natal, contendo além das boas festas o velho pedido, telegrama, telefonema, Associação de Bairros, Região Administrativa, Guarda Municipal, Polícia Militar, até, finalmente, chegarmos à justiça.
Já somos tão intimidados por bandidos oficiais e oficiosos, e ainda temos que abaixar a cabeça para os maus vizinhos????
Cidadania é uma prática cotidiana. SEJA CIDADÃO, DIGA NÃO A OMISSÃO!!!
Assim que estiver pronto um site para este barulho específico (latidos em excesso) eu te envio o link. Grata pela oportunidade. um abraço, Isaura
Clô, concordo com v. em grau, número e tudo o mais. Tenho 69 anos e sofro muito desde pequena pois tenho audição super-sensível. Apesar da idade isso continua. O barulho propaga vibrações e, portanto, faz mal inclusive para os surdos. Ser sensível ou não, não é o problema. Pois, os que não perebem o barulho também são afetaqdos por ele, sem que o saibam. A atuação maléfica do barulho não depende do grau de percepção da pessoa. Essa atuação maléfica interfere em TODOS os organismos, sejam eles capazes ou não de o perceber ou o sentir. E é isso que a maioria das pessoas não sabe ou não quer saber. E nos dizem com uma “candura” de ignorânica que “já se adaptaram” ao barulho. Lêdo engano!!! Essa adaptação é patólógica, pois longe de “resolver o problema” torna a pessoa cada vez mais doente, exatamente porque ela pensa que se adaptou e não toma as devidas providências. Bem, daqui lhe envio os parabens pelo texto e pelas ações que vem realizando para que os ceresumanos se tornem um pouco mais humanos e se percebam efetivamente como tal. Betty Oliveira
Eu tenho uma teoria sobre isso, Clô. Acho que fazer barulho equivale a marcar território. É como fazem os cachorros machos: marcam território com xixi. Alguns humanos machos marcam com barulho. Por isso que vc recebeu esse email raivoso do carinha, dizendo que vai continuar ouvindo o seu som onde e quando quiser. Ele está marcando território.
Odeio muito tudo isso.